Donos da revista Playboy Brasil são acusados de assédio sexual por modelos

Oito modelos que fizeram um trabalho de recepção para a revista Playboy Brasil acusam André Luís Sanseverino e Marcos Aurélio de Abreu, dois dos donos da revista, de assédio sexual. Segundo elas, os empresários teriam pedido fotos nuas e favores sexuais em troca de trabalhos na revista e em outras mídias. Em reportagem exibida pelo “Fantástico” da TV Globo neste domingo (23), as modelos se pronunciaram e mostraram uma série de conversas por mensagens de celular com Sanseverino.

Todas as denunciantes participaram de um evento da revista Playboy Brasil , no dia 13 de agosto de 2016, em Florianópolis, como recepcionistas. Vestidas de coelhinhas, grande ícone da marca, elas tiraram fotos com os donos e convidados na festa que marcava o relançamento da publicação, que teve seus direitos no Brasil adquiridos por Sanseverino, Abreu e um terceiro sócio, Edson de Oliveira, após desvinculação do grupo editoria Abril. Já durante o evento, as modelos alegam que Abreu teria as assediado.

A venda da Playboy

No final de 2015 a Editora Abril, que detinha os direitos de publicar a revista Playboy no Brasil, comunicou a Playboy Enterprises, donos da marca nos Estados Unidos, que não possuia mais interesse no título e, seguindo normas contratuais, deu prazo de um ano para os americanos encontrarem um novo parceiro no Brasil. A Playboy americana selecionou então um pequeno grupo de empresas brasileiras com vasta experiência no setor de revistas para abrir uma concorrência, mas para a surpresa de todos, escolheu como nova representante uma empresa sem nenhum histórico no mundo editorial de publicação de revistas.

A PBB Entertainment (Playboy Brasil) foi criada por três sócios: 1) Marcos de Abreu, dono de uma empresa de recursos humanos do Paraná, considerado o investidor do grupo, 2) Edson Oliveira, um empresario e 3) André Sanseverino, um fotógrafo que havia feito alguns trabalhos para a Playboy brasileira no passado. Durante o anúncio da venda, o vice-presidente da Playboy americana, Mike Violano, declarou que “A Playboy tem uma longa história no Brasil e nós estamos animados com o fato da PBB Entertainment nos ajudar a manter essa tradição no Brasil”. Já Sanseverino disse: “Queremos que a revista tenha o glamour que já teve. Queremos voltar a ter grandes estrelas na capa, que elas tirem a roupa nas nossas páginas”.

Parece que não foi isso que aconteceu. Em apenas um ano nas mãos da nova adminstração, a história de 40 anos de sucesso da revista com a Editora Abril sofre um pesado golpe ao ser denunciada por assédio sexual.

As denúncias atingem diretamente os sócios Marcos de Abreu e André Sanseverino, que teriam prometido fama e sucesso em troca de fotografias de nudez e de sexo, durante a festa do lançamento da nova Playboy em agosto de 2016. Sanseverino passou o número de seu celular para as mulheres, pedindo para que elas entrassem em contato para mais trabalhos profissionais. No entanto, após trocas de mensagens, as modelos alegam que ele as assediou e ofereceu trabalhos na revista e até mesmo em novelas em troca de favores sexuais.  “Ele começou a me perguntar se eu iria mais a fundo pra conseguir um trabalho melhor. Ele me perguntou, por exemplo, se eu trairia meu namorado para me dar bem no trabalho”, afirmou Samantha Ofcyani, uma das modelos, à reportagem. “Ele começou mostrando os trabalhos dele, mandando fotos. Depois ele me pediu fotos nuas no espelho, dizendo que precisava ver o meu corpo”, conta Bárbara Martins, mais uma que acusa o empresário de assédio.

Nas conversas cedidas pelas modelos, é possível ver perguntas de cunho sexual e insinuações por parte de Sanseverino. “Se eu te pedisse uma foto nua você me mandaria?”, “Você gosta de sexo?” e até mesmo “Você faria sexo com a sua irmã?”, são alguns dos questionamentos do empresário, que frequentemente pede por fotos das modelos sem roupa. Segundo ele, nas próprias mensagens, as fotos seriam apagadas.

Marcello Lombardi, advogado que representa as modelos, afirmou que o grupo entrou com uma ação por danos morais, por conta das propostas de cunho sexual e também por lucros cessantes, uma vez que o caso, segundo a acusação, atrapalhou as carreiras das modelos. “As propostas eram todas assim: ‘se você fizer sexo comigo, eu te coloco na capa da Playboy’. E isso foi feito de uma forma muito ostensiva, deixando claro que condicionava o sexo com o dono da revista Playboy a estar nas publicações e outros trabalhos”, afirmou o advogado. Segundo a acusação, nenhuma das oito mulheres foi chamada para qualquer trabalho envolvendo a Playboy após negarem as investidas do empresário.

O “Fantástico” também procurou os empresários, que se defenderam. Abreu afirmou que estava junto com a esposa no dia da festa e que não teve qualquer interação inapropriada com a modelo. Ele ainda chamou a acusação de “contraditória”. Sanseverino, por sua vez, disse que as conversas com as modelos eram “normais” e que fazia as perguntas de cunho sexual para se certificar de que as mulheres não eram garotas de programa. Quando questionado do motivo de não ter retomado as conversas com as modelos que negaram os favores sexuais, o empresário optou por se calar. Coincidentemente, após se negarem a responder essas perguntas de forma positiva, nenhuma das mulheres conseguiu trabalhar na Playboy.

O advogado do empresário, Paulo Lasz, também falou sobre o cliente e a revista. “Apesar de ser uma revista masculina, a mulher decide como ela vai posar. Existe um absoluto respeito pela figura da mulher e o André não teve a menor intenção de constranger as modelos”, explicou.

Por conta da polêmica, a editora PPB Entertainment, responsável pela publicação da Playboy Brasil, comunicou o afastamento total do sócio André Sanseverino até a apuração completa das acusações. A editora ainda disse que a entrevista do sócio não corresponde com os valores da Playboy, e que a marca repudia todo e qualquer tipo de assédio.(IG)

Sócios da revista Playboy, André Sanseverino (esq) e Marcos Aurélio de Abreu (centro) são acusados de assédio sexual

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